Ex-ministro: Decreto bolonaro sobre cloroquina para a COVID

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse na terça-feira que o presidente Jair Bolsonaro havia considerado a possibilidade de emitir um decreto para expandir oficialmente o uso da droga anti-malária cloroquina para pacientes com COVID-19 no Brasil, embora estudos o considerassem ineficaz.

Bolsonaro, que se opôs a medidas pandêmicas rigorosas, como o lockdowns, por ameaçar a economia do Brasil, freqüentemente tocou no uso de drogas anti-maláricas não comprovadas no tratamento da COVID-19, principalmente quando ele próprio adoeceu com a doença que pode ser causada pelo coronavírus.

Mandetta prestou mais de seis horas de testemunho como parte de uma investigação do Senado sobre o tratamento da pandemia pelo governo, que já matou 408.000 brasileiros. A insistente promoção do governo da cloroquina e de uma versão menos tóxica, a hidroxicloroquina, deve estar entre as principais linhas de investigação dos legisladores.

Mandetta disse ter sido convocado para uma reunião no palácio presidencial onde viu um rascunho do decreto sobre a mesa com o objetivo de expandir o uso da cloroquina para incluir o tratamento COVID-19. Ele disse que o presidente do órgão regulador da saúde do Brasil também estava presente e se recusou a ficar por trás do decreto.

“A única orientação sobre cloroquina que veio do ministério (da saúde) foi para o uso compassivo, quando não havia outro recurso para pacientes críticos”, disse Mandetta, que foi demitido por Bolsonaro em abril de 2020. Nossa orientação foi baseada na ciência”. Ele (Bolsonaro) teve um aconselhamento paralelo”.

O exército brasileiro gastou milhões produzindo cloroquina, que ao longo do ano passado e até 2021 foi distribuída para hospitais em todo o país.

Em várias ocasiões, Bolsonaro admitiu que a hidroxicloroquina não está cientificamente comprovada, ao mesmo tempo em que no mesmo fôlego incentivava seu uso. Seu atual ministro da saúde, Marcelo Queiroga, disse em uma entrevista no mês passado ao jornal O Globo que “alguns estudos observacionais” mostram benefícios no tratamento precoce, mas se recusou a nomear quais estudos poderiam ser.

Alguns analistas dizem que a sonda do Senado provavelmente fornecerá uma bateria de meses de acusações embaraçosas para o bolonaro de extrema-direita antes de sua candidatura à reeleição em 2022. Espera-se que ele concorra contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora a investigação não seja formalmente destinada a alegações criminais, ela pode potencialmente levar a acusações.

Os críticos dizem que a frequente diminuição do coronavírus como uma “pequena gripe” e sua fervorosa oposição às restrições à atividade aumentaram o número de mortes no Brasil. A isto se juntou a lenta implementação da vacinação e uma variante mais contagiosa que se acredita ter tido origem na cidade amazônica de Manaus.

A média brasileira de sete dias de mortes por COVID-19 recuou para cerca de 2.300, de mais de 3.100 mortes diárias no pico de meados de abril. O instituto estatal de pesquisa médica Fiocruz e outros especialistas advertiram que as mortes podem se alinhar a um nível elevado depois que prefeitos e governadores em algumas das principais cidades do país relaxaram as restrições à atividade que Bolsonaro se opõe.

Mandetta disse que Bolsonaro não o pressionou diretamente a adotar uma postura diferente em relação às medidas de quarentena, mas disse que o fato de o presidente o contradizer publicamente causou confusão entre os brasileiros.

A comissão de investigação do Senado tem o poder de intimar documentos e obrigar testemunhas a depor, e poderia submeter qualquer descoberta de delito à polícia ou ao Ministério Público.

Mandetta é o primeiro dos quatro ministros da saúde de Bolsonaro a testemunhar no inquérito. Um dos outros, o General Eduardo Pazuello, estava agendado para comparecer na quarta-feira, mas não o faria porque recentemente esteve em contato com duas pessoas que testaram o coronavírus, disse Omar Aziz, presidente da comissão.

Author: xuencar

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